segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

5. (Pedro Sousa)

A foto tinha um papel de destaque cada vez maior no centro da sala vazia. Era como se fosse a única peça da sala, como se ocupasse cada vez mais espaço, impossível de ignorar. A Imagem olhava-o nos olhos, apelava à descoberta da sua história.

A inquietação crescia de dentro para fora e impunha a sua presença, incómoda, angustiante, mesmo que aparentemente impossível, algo tinha que fazer, dar corpo às imagens que rodavam como um remoinho na memória.

Manuel sentou-se à mesa com uma missão, uma ideia que lhe dava forças, uma força que não sentia há muito tempo, um tempo que já não tinha e escasseava por entre as frinchas da janela da sala, pelos céus da cidade numa tarde de sol como tantas outras.

Uma fotografia, um nome, uma cidade, uma língua.Começaria por Paris, no Boulevard Saint-Michel, a Boulinier era uma visita regular nos tempos em que o trabalho obrigava a deslocações regulares. O seu amigo Luís, um português, livreiro, conhecedor dos meandros editoriais e visita frequente dos meios decadentes em que tantas vezes as letras se movem, poderia ser uma ajuda para perceber esta inquietante coincidência.

Conheceria ele Dominique Lapin ? Existiria ou seria apenas um nome? Partiria desde já!

Sem comentários:

Enviar um comentário