13. (Bernardo Martins)
Acordou de sobressalto. Respirou fundo
de forma a aliviar a pressão no peito. Sentia o coração a palpitar, estava
acelerado.
Pouco passava das 9 da manhã. Estava
deitado e o olhar seguia as sombras que passeavam pelo tecto do quarto.
Lentamente voltava a si. Pegou na foto e olhou-a antes de fechá-la na mão.
Voltou a perder-se nas sombras.
Tudo lhe tinha parecido tão real, o
cheiro das flores ou o leve passar dos dedos pelas folhas enquanto percorria a
loja. E a imagem de Ana? Uma mera ilusão, uma distante imagem à qual se
agarrava. Haviam passado 4 anos desde que partiu, 4 anos sem notícias. Não se
conseguia lembrar dela de outra maneira, a menina que se agarrava às suas
pernas, as milhares de vezes em que ela lhe perguntou o porquê das coisas ou as
noitadas que fazia para a ajudar com trabalhos. Tudo mudou de repente, havia-se
tornado demasiado penoso recordar.
O toque do telefone interrompe o seu
pensamento. O inusitado telefonema fez a ansiedade voltar a apoderar-se dele.
Atendeu depois de três toques. Do outro lado, notícias de Ana.
O seu coração afundou-se.