4. (Raquel Pais)
Nisso, ele não pensou mais. E isso, que estava
dentro do aquilo, voltou, como volta tudo o que nos arrebata por um segundo.
Bastava fechar os olhos para escutar o crespo grito de um livro que se desfaz, o cheiro das
cobertas húmidas da casa dos avós acariciava-lhe as gengivas, e começava
aquilo. Um estrangulamento na garganta, homicídio de dentro, cócegas como
passos de mil demónios, e ele raspava o ar, e ele raspava a voz, e raspava o
tempo e a memória para entender o porquê de tamanho infortúnio. Saltava para
fora da cama, mantas escuras escavavam o colchão duro, no escuro expectante,
atento ao menor baile que uma folha por escrever, encenava na árvore. Voltara
um homem doente, pensava. Receoso de incomodar os vizinhos, saltitava levemente
até à cozinha, olhava a cidade e roía algum legume, cortado em palitos
milimetricamente calculados no mármore branco da casa vazia.
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