4. (Raquel Pais)
Nisso, ele não pensou mais. E isso, que estava
dentro do aquilo, voltou, como volta tudo o que nos arrebata por um segundo.
Bastava fechar os olhos para escutar o crespo grito de um livro que se desfaz, o cheiro das
cobertas húmidas da casa dos avós acariciava-lhe as gengivas, e começava
aquilo. Um estrangulamento na garganta, homicídio de dentro, cócegas como
passos de mil demónios, e ele raspava o ar, e ele raspava a voz, e raspava o
tempo e a memória para entender o porquê de tamanho infortúnio. Saltava para
fora da cama, mantas escuras escavavam o colchão duro, no escuro expectante,
atento ao menor baile que uma folha por escrever, encenava na árvore. Voltara
um homem doente, pensava. Receoso de incomodar os vizinhos, saltitava levemente
até à cozinha, olhava a cidade e roía algum legume, cortado em palitos
milimetricamente calculados no mármore branco da casa vazia.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
3. (Lolita Gomez)
Lunes
18 de abril de 1957, hace ya varios meses que Manuel ha regresado de
Japón. Con él volvió sólo la mitad de su esencia, ahora las jornadas son
algo pesadas, hay días proclives a la deriva.
Distraído,
ausente… Prepara su incursión un día más en la ciudad. Comienza a descender la
pronunciada calle de su casa que le llevará a la pequeña plazuela. Según avanza
en sus pasos escucha el murmullo del gentío. Levanta su mirada y puede ver con
asombro que la plazuela esta repleta de minúsculas casetas llenas de libros. La
gente se amontona entorno éstos.
Tímidamente,
con mucha discreción, intenta atravesar siguiendo su camino como cada mañana,
es algo casi retorcido.
Mientras
sigue caminando en una inspiración, más fuerte de lo normal toma consciencia de
que el aire gélido araña su garganta. Ese aire tiene entremezclado armoniosos
aromas…Sabe a celulosa, a viejo, podrido, al paso de los años, sabe a madera, a
tinta… Es el sabor de una casa vacía.
No desea
detenerse, pero…. Cómo ? sus ojos se clavan en un libro. El nombre del autor se
agranda en su mente.
Dominique
Lapin.
Respira
profundamente y continua su marcha con una media sonrisa.
No
volverá a pensar en ello.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
2. (Flavio Cafiero)
Não houve jeito de deixar a filha na loja. Deixar que a filha habitasse a casa de outro que não ele mesmo? Perguntou ao dono do estabelecimento se, por acaso, não se notava semelhança, mas o inglês do japonês era curto. Manuel coloca a fotografia junto ao rosto, aponta. Nada. Só um sorriso bem japonês, daqueles que, para um ocidental, fica igual a todos os outros.
Aquela fotografia custou-lhe as refeições, um dia inteiro de turismo. Valia. Sabia lá Manuel onde andava a filha verdadeira. Casada com o homem errado, ponto pacífico, todos concordavam, avós, irmãos. Levada para o outro lado do Atlântico, os dois a fazer a América. Fazer a América, e tanto a ser feito em Portugal, ainda. Pelas últimas notícias, era São Francisco, o paradeiro, o que piorava a situação, um oceano e mais um continente inteiro separavam pai e filha. Era muito.
Sentou-se no banco em frente ao hotel. Ficou olhando a filha no sol. Virou a fotografia. Havia um nome ali atrás, o grafite mal apagado pelo tempo, fosse quanto fosse o tempo daquela rapariga tão familiar. Nada muito oriental, o nome: Dominique Lapin. Riu. Lapin, em francês, não era coelho?
Subscrever:
Mensagens (Atom)