segunda-feira, 12 de dezembro de 2016


2. (Flavio Cafiero)

Não houve jeito de deixar a filha na loja. Deixar que a filha habitasse a casa de outro que não ele mesmo? Perguntou ao dono do estabelecimento se, por acaso, não se notava semelhança, mas o inglês do japonês era curto. Manuel coloca a fotografia junto ao rosto, aponta. Nada. Só um sorriso bem japonês, daqueles que, para um ocidental, fica igual a todos os outros.

Aquela fotografia custou-lhe as refeições, um dia inteiro de turismo. Valia. Sabia lá Manuel onde andava a filha verdadeira. Casada com o homem errado, ponto pacífico, todos concordavam, avós, irmãos. Levada para o outro lado do Atlântico, os dois a fazer a América. Fazer a América, e tanto a ser feito em Portugal, ainda. Pelas últimas notícias, era São Francisco, o paradeiro, o que piorava a situação, um oceano e mais um continente inteiro separavam pai e filha. Era muito.

Sentou-se no banco em frente ao hotel. Ficou olhando a filha no sol. Virou a fotografia. Havia um nome ali atrás, o grafite mal apagado pelo tempo, fosse quanto fosse o tempo daquela rapariga tão familiar. Nada muito oriental, o nome: Dominique Lapin. Riu. Lapin, em francês, não era coelho?

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