segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

11. (Francisco Feio)

Uma livraria é um mundo e Manuel sabia-o. Ou melhor; é um universo povoado de mundos. Cada livro é uma porta aberta para o desconhecido, um convite para uma viagem incerta. Nunca sabemos de onde partimos, onde chegaremos e se pelo meio não saltaremos de livro em livro, de mundo em mundo. Uma livraria é uma vasta rede de possibilidades e as conexões infinitas.

Lembrou-se que tinha sido através de um livro que tinha aparecido pela primeira vez em Paris, muitas livrarias atrás. Tinha entrado por acaso numa livraria meio obscura numa terreola remota do Japão, já não se lembrava bem em qual das suas visitas. Levava no bolso a fotografia que sempre o acompanhava e que era a razão da sua viagem. Ao folhear um livro antigo, daqueles que tinham as fotografias coladas nas folhas, entre o texto, encontrou uma imagem de um caminho junto ao Sena. A imagem estava dobrada num canto; lembra-se de alisar a fotografia e ficar a olhar longamente aquela paisagem (quase) deserta junto ao rio; ao fundo via-se uma silhueta difusa de uma pessoa. Pensou que gostaria de estar ali e ser aquela sombra numa outra fotografia de um outro qualquer autor.


Dirigiu-se à porta e despediu-se do velho casal que presumiu serem os donos. Quando fechou a porta atrás de si e levantou o olhar, reparou que o espaço estava completamente diferente daquele que tinha visto a caminho da livraria. Virou-se de novo para a porta da livraria e deu com uma parede. Voltou-se de novo e estava ali, no sítio que tinha acabado de ver. Incompreensivelmente calmo, levou a mão ao bolso; a fotografia continuava lá.

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